Heroísmo: Policiais Militares salvam vidas de pessoas ilhadas no McDonald’s durante enchente em São Carlos
“Sinceramente não pensei em ter medo, ou morrer. Pensei naquelas pessoas. Nem em um ato heroico. Queria apenas salvar aquelas vidas”, disse o cabo Jonathan Luís Manoel, natural de Araraquara, 29 anos e há 8 na Polícia Militar. “O ímpeto de salvar está no sangue e naquele momento, pensei na minha família”, completou o 1º sargento Roosevelt Soares de Paula, paulistano, 53 anos e há 32 na PM.
Com estas frases, os PMs Roosevelt e Jonathan, com a participação do Corpo de Bombeiros e de voluntários, foram os responsáveis por não ter ocorrido vítimas fatais durante a enchente ocorrida na tarde/noite de domingo, 13, após um forte temporal que desabou em São Carlos e que teve duração de aproximadamente três horas com uma precipitação pluviométrica de 167,8 mm.
Os PMs foram os primeiros a chegar na lanchonete McDonald’s localizada na rotatória do Cristo e em minutos foi tomada pelas águas. Entre funcionários e consumidores (muitas crianças), haviam mais de 50 pessoas. Todas salvas após um trabalho em conjunto.
O Portal de Notícias São Carlos Agora que é um dos nossos parceiros do Grupo Rio Claro – SP, chegou aos policiais após constatar mensagens de agradecimento após o salvamento. Para que pudessem falar com a imprensa foi necessária autorização superior.
ANJOS FARDADOS
Às 11h desta terça-feira, 14, a reportagem foi até a 1ª Cia da Polícia Militar e ouviu o relato de Roosevelt e Jonathan que estavam a serviço através da jornada Dejem.
“Nós estávamos com a viatura prefixo I38146, uma Spin e fazíamos patrulhamento preventivo com o intuito de prevenir furtos/roubos a pedestres, casas e estabelecimentos”, disse Roosevelt. “Estávamos na Avenida Grécia, próximo a Electrolux”.
Quando o relógio bateu às 18h, Roosevelt notou o tempo fechar repentinamente e a chuva chegar com violência. “Formou-se uma enxurrada muito grande sentido Bicão. Por intuição disse ao cabo Jonathan, pelo volume de água, irmos para a Avenida Tancredo Neves averiguar a Rotatória do Cristo, pois alguém poderia necessitar de ajuda”, antecipou o sargento PM.
Ato contínuo, os PMs foram até o local desejado e ao chegar em frente ao edifício de apartamento Residencial Dona Elisa notaram que várias mulheres choravam e homens pediram por ajuda. “Ali a água chegava a uns 40 centímetros e fomos informados que tinha crianças e idosos ilhados no McDonald’s”, contou.
MOMENTO DE TENSÃO
A partir dai os PMs conversaram rapidamente, pois viam o clamor das pessoas ilhadas pedindo socorro. “Naquele momento o cabo pediu autorização para iniciar o processo de salvamento. Ele queria mergulhar e senti firmeza nas suas palavras. Somos uma equipe e nos completamos. No momento pensei em minha família e autorizei, pois confiei e acreditei no meu cabo”, assegurou Roosevelt.
LUTA PELA VIDA
Sem pensar nas consequências e ciente que iria enfrentar águas revoltas que chegavam a 2,5 metros de altura, Jonathan foi em busca das vítimas ilhadas.
“Eu sei nadar e a distância que me separava das pessoas chegava a uns 50 metros. Antes do McDonald’s tem uma empresa que tem grades e fui me apoiando, nadando e pisando em carros submersos. A água batia no meu peito. Eu me apoiava e nadava. Tinha pessoas que estavam segurando nessas grades”, disse, “Quando cheguei até a lanchonete a água batia no pescoço e os veículos no estacionamento estavam submersos. Fui me locomovendo como dava. Quando cheguei até as pessoas, pedi calma e que elas fossem para a parte mais alta do local, que era o playground. Ali tinha dois homens que não sei quem são, que sabiam nadar e eram voluntários. A partir daí começamos a salvar as crianças. Eu carreguei três até um local seguro. Fizemos um cordão com as pessoas que sabiam nadar e seguraram na grade, para que mais pessoas fossem retiradas rapidamente”, disse Jhonatan, que salvou duas idosas que seguraram em suas costas. Jonathan disse que foram salvas sete crianças e afirmou que não sabe precisar quantas vezes foi até o interior da lanchonete e retornou até um local seguro realizando resgates.
CHEGADA DOS BOMBEIROS
Durante o salvamento, o auto bomba do Corpo de Bombeiros chegaram e o processo de salvamento das pessoas restantes foi concluído com equipamento apropriado. “Todas foram deixadas em local seguro”, disse o cabo PM.
NÃO PENSEI NA MORTE
Durante o salvamento das crianças, idosas, demais clientes e funcionários, Jonathan disse que não pensou na morte. Nem mesmo quando móveis, entulhos e galhos passavam e trombavam com ele, trazido pela forte correnteza.
“Estava extenuado. Muito cansado. Mas não pensava na morte. Queria salvar todas as pessoas. Tenho comigo que ser policial militar é uma vocação. Temos que salvar vidas e fazer o bem para a sociedade. Caso eu morresse, talvez seria considerado um herói. Mas não me importo com isso. Quero apenas ajudar o próximo. Me sinto recompensado e cumpri minha obrigação como cidadão e como PM. Dever cumprido. E faria isso de novo. Poder salvar a vida de alguém, ver o sorriso de felicidade, um agradecimento. Isso não tem preço. Não sou ninguém especial. Sou um PM a serviço da minha corporação e da sociedade. A mim foi dada uma missão. E ela foi cumprida”, finalizou Jonathan.
Fonte: São Carlos Agora