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Genética pode explicar casos graves de Covid-19 em pacientes jovens; entenda

Ilustração do vírus.
Reprodução/Flickr/Prachatai

Material genético do novo coronavírus enxerga a célula humana como um maquinário, que usa para se replicar

No início do mês de agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o número de jovens contaminados pela Covid-19 , doença transmitida pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), triplicou em todo mundo. Se em fevereiro a taxa de contaminação de pessoas entre 15 e 24 anos era de 4,5% agora o número saltou para 15%.

Quando se trata de jovens saudáveis, a resposta para uma infecção grave de novo coronavírus pode estar em fatores genéticos. É o que explica Marcelo Sady, Pós-Doutor em Genética e diretor geral da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem.

O médico explica que o  material genético do vírus enxerga a célula como um maquinário que usa para se replicar. No organismo, existem alguns genes e enzimas que, em quantidade maior, são capazes de tornar esse trabalho ainda mais fácil.

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No caso dos jovens, as comorbidades (como diabetes e hipertensão, por exemplo), também podem agravar o quadro. Jovens obesos ou fumantes têm tanto risco de contaminação quanto pessoas idosas.

Além disso, a obesidade é a causadora da evolução do quadro grave em 60% dos jovens. Este fator pode aumentar em 7.36 vezes a gravidade da Covid-19.

Resposta genética

Quando reage diante da infecção, o organismo envia alguns mensageiros pró-inflamatórios que são geneticamente codificados. Além disso, o organismo também responde à infecção com alelos (que são diferenciações encontradas no mesmo gene).

“Nós temos uma situação em que devido à presença do vírus, já podemos enfrentar uma tempestade inflamatória, mas ela pode ser mais intensa ainda por causa desses alelos”, justifica Sady.

Em algumas pessoas, esses alelos podem conter códigos genéticos que podem intensificar o risco de outras doenças, como a trombose. “Consequentemente pode apresentar um maior risco de trombofilias generalizadas e risco maior de quadros graves de Covid-19”, diz o geneticista.

Genes suscetíveis ao novo coronavírus

A ciência tem investigado a fórmula de diversos genes para buscar quais são os mais vulneráveis ao novo coronavírus. Até o momento, o mais pesquisado e com maior quantidade de resultados é o gene ACE2.

O ACE2 tem como função o controle do nivel de sal no corpo e a pressão, por exemplo. Com esse processo, acontece a expansão dos vasos sanguíneos.

Esse mecanismo pode tornar a infecção pelo  Sars-Cov-2 mais fácil a depender de sua quantidade no organismo. Isto porque estão posicionados em locais estratégicos para a contaminação, como nas membranas do pulmão, da mucosa nasal e do intestino.

“Sabemos que o Sars-Cov-2 tem uma espícula que consegue se ligar à ACE2 e isso vai facilitar a fixação do vírus nas células do pulmão”, pontua o doutor. “Quanto mais vírus conseguirem introduzir o seu material genético, maior o risco desse indivíduo apresentar um quadro mais grave”, acrescenta.

Duas dessas enzimas codificadas pelo ACE2 são a TMPRSS2 e a furina, que podem separar as proteínas comuns do organismo humano, mas também as chamadas glicoproteínas do vírus.

Também é possível que os pacientes com a enzima TMPRSS2 e furina tenham a carga dessas enzimas duplicadas, o que torna ainda mais facilitada a fusão da membrana viral com a celular. “Isso vai facilitar a fusão da membrana no vírus com a membrana da célula.”

O que pode causar mais gravidade no quadro do paciente é a resposta inflamatória, que pode ser exagerada e pode prejudicar, além das células do hospedeiro, órgãos da pessoa infectada.

Sady afirma que é possível detectar se o organismo possui esses genes e enzimas por meio de exames de genótipos, que é capaz de identificar grupos genéticos no paciente.

Desta forma, o exame pode ser um aliado caso um paciente jovem e saudável apresente piora considerável do quadro. Assim, é possível prever qual será a resposta genética do organismo e quais cuidados a pessoa contaminada pode precisar em uma eventual internação, por exemplo.

“A combinação dessea alelos e de vários genes que são desfavoráveis aumentam o risco de apresentar quadros graves de Covid-19”, salienta o geneticista.

Fonte: IG SAÚDE


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