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Polícia Civil conclui como homicídio culposo caso de jovem morta por tiro de GCM em Rio Claro

Após 30 dias, a Polícia Civil de Rio Claro (SP) concluiu o inquérito sobre a morte da jovem Gabrielli Mendes da Silva, de 19 anos, atingida por um tiro durante uma ação da Guarda Civil Municipal (GCM) em uma festa clandestina no mês passado.

O guarda José Carlos Barros, de 52 anos, foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. A Secretaria Municipal de Segurança de Rio Claro abriu inquérito administrativo para apurar a conduta do GCM. A prefeitura informou que o processo ainda está em andamento.

Segundo o advogado da família, Alexandro Pin, o inquérito policial foi concluído na terça-feira (1º) como homicídio culposo pelo caso de Gabrielli e lesão corporal culposa pelo caso de José Felipe de Lima Verneck, de 29 anos, que foi atingido na perna.

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Já os advogados de defesa da GCM, Mario Franceschini e Marcia Cristina Cesar, informaram que as consequências do ato estão sendo arcadas pelo guarda, com afastamento preventivo de suas funções e processo administrativo junto à corregedoria da corporação (veja nota completa abaixo).

A Polícia Civil não deu detalhes sobre o inquérito, que ouviu 15 testemunhas, entre familiares da vítima e guardas municipais que participaram da operação. Segundo a polícia, todos os laudos periciais foram anexados ao processo.

A conclusão já foi encaminhada à 1ª Vara Criminal da Comarca de Rio Claro, onde o caso deve ser julgado e sentenciado em primeira instância. “Da Polícia Civil nesse momento está encerrado. Havendo necessidade indicada pelo promotor ele requer, aponta qual essa necessidade, e vai ser cumprida pontualmente e com a maior previdade, como foi nesse caso, o inquérito concluído dentro do prazo de 30 dias”, disse o delegado seccional de Rio Claro, Paulo Cézar Junqueira Hadich.

Gabrielli Mendes da Silva era estudante de enfermagem — Foto: Arquivo pessoal

Inquérito

De acordo com o advogado, a família não concorda com a decisão do inquérito da Polícia Civil e irá representar na Justiça o pedido de consideração de dolo eventual, quando o suspeito assume o risco da sua ação.

“A conclusão é contrária a todas as provas que estão no inquérito. Em todo momento, as testemunhas são categóricas em afirmar que ele mirava a arma com clara intenção de cometer o delito. Pode ser que ele não tenha objetivado tirar a vida da Gabrielli, mas ele concorreu com o risco”, disse.

A mãe de Gabrielli, Amanda Mendes da Silva, contou que considerou injusta a conclusão do inquérito policial e que acredita que, se não houvesse intenção, o guarda deveria ter atirado para cima e não em direção às pessoas. Na quarta-feira (2), completou um mês que a jovem foi morta.

“Hoje é um dia muito dolorido, está muito difícil. Ela tinha um futuro todo pela frente, trabalhava e cursava o primeiro ano de faculdade de enfermagem. Eu sinto falta dela principalmente de manhã, na hora que ela chegava correndo do serviço para se preparar para a aula à tarde. A sensação é que ela vai chegar em casa a qualquer momento”, disse.

Segundo prefeitura, festa clandestina acontecia em rua em Rio Claro — Foto: Reprodução/EPTV

Abordagem e tiros

Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, a GCM fazia a verificação de uma denúncia de festa clandestina com aglomeração, em uma rua no Jardim Panorama. O boletim de ocorrência diz que 40 pessoas participavam de um baile funk e os guardas alegaram que os moradores ameaçaram jogar pedras quando as viaturas chegaram.

Contudo, de acordo com Pin, Gabrielli não estava na festa, mas visitava uma tia que mora há um quarteirão de onde ocorreu a aglomeração e aguardava um Uber para voltar para casa. O guarda disse à polícia ter pensado que a arma estava descarregada. Ao colocar a bala de borracha, disparou acidentalmente, mas a espingarda estava com munição de verdade.

Segundo a Polícia Civil, Gabrielli e José Felipe de Lima Verneck, de 29 anos, foram atingidos. Ambos foram socorridos à Santa Casa, mas Gabrielli não resistiu ao ferimento.

Pin também representa Verneck, que foi atingido na perna durante a abordagem. De acordo com o advogado, ele e Gabrielli não eram amigos e não estavam juntos. O jovem ainda está com a bala alojada e deve passar por cirurgia para retirada nos próximos dias.

Na tarde do domingo em que ocorreu a abordagem, moradores arremessaram pedras durante protesto na sede da GCM de Rio Claro, após o sepultamento de Gabrielli. Em nota, a prefeitura informou que vidros de janelas foram danificados e um guarda recebeu uma pedrada no braço. Ninguém foi preso.

Manifestantes arremessam pedras na sede da Guarda Civil Municipal de Rio Claro — Foto: Flavio Hussni/Jornal Cidade

Veja nota da defesa da GCM

A Defesa do Guarda Civil Municipal Barros, por primeiro, se solidariza com as famílias das vítimas em virtude do trágico incidente ocorrido.

A Autoridade Policial que conduziu as investigações produziu as provas com a serenidade e a urgência que o caso requer, concluindo pela culpa não intencional do acusado, com o que a Defesa concorda.

As consequências do ato imputado estão sendo arcadas por ele, com afastamento preventivo de suas funções, e ainda respondendo a processo administrativo junto a Corregedoria da Corporação.

Tudo será devidamente esclarecido no decorrer da instrução criminal e a justiça será feita, na medida da culpabilidade do acusado.

Sendo o que podemos colaborar com a imprensa neste momento, apresentamos nossos protestos de elevada estima e distinta consideração.

Mario A O Franceschini – advogado

Marcia Cristina Cesar – Advogada

(Com informações de Gabrielle Chagas/G1 São Carlos e Araraquara)


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