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Como a gordofobia afeta a saúde mental da mulher gorda? Veja e aprenda

Andréa Gouvea, 32 anos, é uma publicitária, influenciadora digital e gorda. Apesar de ter várias outras características, seu peso sempre foi uma questão de debate para pessoas, assim como o corpo de outras mulheres gordas.

Gordofobia
Reprodução/Instagram

Andréa Gouvea explica que frases que parecem inocentes podem machucar a autoestima da mulher gorda

Pensando nisso ela passou a usar seu  local de fala para falar sobre gordofobia e gordoativismo nas redes sociais.

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Quem liga pra saúde mental de pessoas gordas? ? Essa é a questão do meu setembro amarelo. Eu e outros criadores gordos na internet passamos diariamente pela violência de ter nossa saúde, corpos, escolhas, aparência e estilo de vida questionados, como se o fato de ser um criador gordo desse autorização para pessoas falarem de maneira tão absurda com a gente. Muitos de nós compartilhamos nossas dores diárias, sempre nos solidarizamos uns pelos outros e quando sofremos ataques compartilhamos o cuidado e as ferramentas para evitar ao máximo essa violência. Mas e a pessoa gorda que diariamente escuta estes comentários da sua família, amigos, companheiros e muitas das vezes de pessoas que nem a conhecem? Como fica e como lidam com a violência sofrida diariamente? ? É como se pelo fato de sermos gordos não nos restasse nenhuma opção além do emagrecimento. Se esta não for a nossa escolha devemos sofrer violência, ser humilhados e xingados até que essa escolha seja feita, caso contrário você merece tudo de ruim que possa vir a ocorrer com você. Você precisa sofrer e pagar por uma suposta escolha. Como dói ouvir isso diariamente de tantas pessoas…? Muitos acreditam que essa violência vai incentivar pessoas gordas a emagrecerem e buscarem sua “saúde” mas não percebem que isso só afasta pessoas gordas de buscarem o real cuidado consigo, afinal, se eu sou constrangida por tanta gente pra que vou buscar mais lugares que podem me humilhar? No final a pessoa que você ofende apenas por ser gordo não vai emagrecer do jeito que você queria só porque é xingada. Neste setembro amarelo eu peço: pensem na violência que milhares de pessoas sofrem diariamente só para que você possa expressar a sua “opinião”. Não adianta falar sobre a saúde mental e continuar um gordofóbico que ajuda a alimentar um sistema cruel que destrói a vida, a autoestima e o autocuidado de pessoas gordas. Eu existo com esse corpo e não quero ser marginalizada, violentada e humilhada por isso. ??

Uma publicação compartilhada por Andréa Gouvea ? Autoamor (@gordeia_) em 14 de Set, 2020 às 5:50 PDT

Apesar da Internet ser um ambiente que ajudou muito as mulheres a entenderem mais sobre o amor próprio e encontrarem uma rede de apoio, Andréa, em entrevista ao Delas , explica que ainda existe um estigma muito grande envolvendo o corpo gordo.

“Existem pessoas que ainda acham que o corpo da mulher gorda é público para ser julgado. Além de toda a cobrança para estar dentro do padrão, a gente é colocada à prova sobre as coisas conseguimos fazer, seja no profissional, no amor. A gordofobia coloca as mulheres em xeque de suas capacidades”, diz a influenciadora.

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Gordofobia X saúde mental

Gouvea recorda de um episódio que a marcou muito quando tinha apenas 17 anos. Ela estava no cabeleireiro quando uma mulher perguntou como ela conseguia ser feliz com o corpo que tinha, dizendo que se fosse ela não conseguiria nem olhar o próprio reflexo no espelho.

“Olha que coisa mais violenta para se dizer! Eu tinha 17 anos, quem é ela para questionar?  Meu corpo tem que ser parte da minha felicidade. Eu tenho um corpo gordo que me ajudou a ser a mulher que eu sou hoje, que me levou pros caminhos que eu estou. Por que eu tenho que odiar ele? Só porque ele tem um formato diferente?”, questiona.

Apesar de hoje ter uma relação muito boa com o corpo, Andréa sabe que existem muitas mulheres que ainda não se sentem bem com a própria pele e frases que são ditas a elas só pioram essa visão.

Meu corpo inteiro é bonito

Muitos acreditam que o corpo da mulher gorda está aberto a debate. A influenciadora comenta que escuta frases que parecem nada demais para quem fala, mas estão carregadas de gordofobia. Frases como “seu rosto é tão bonito, porque você não emagrece?”, “você precisa emagrecer pra sua saúde”, “ninguém vai te amar sendo gorda” ou “nunca vai conseguir um emprego sendo assim”, são comuns. Isso acaba prejudicando demais a saúde mental de muitas, que acabam acreditando nesses discursos.

“A gordofobia é um tipo de violência que vai acabando com a sua vida e a sua saúde mental. As mulheres que passam por isso têm problemas como não se sentir capaz como outras sentem, não se sentem bonitas, se sentem erradas em ocupar cargos ou ambientes que supostamente não são feitos para elas”, acrescenta.

A influenciadora explica que essa gordofobia enraizada se deve ao fato de que nossa sociedade ainda associa a gordura a algo preguiçoso, feio e incapaz. “Vivemos em uma sociedade gordofóbica que associa a gordura a fracasso e  feiura. As pessoas não conseguem entender que temos vários biotipos. Precisamos lembrar que o que é belo depende do ponto de vista. Não é porque eu sou gorda que eu não sou saudável. Eu não vejo as pessoas perguntando da saúde dos fumantes, de quem fica sem comer com aquelas dietas doidas, por exemplo. O problema na cabeça das pessoas é ser gordo, não a saúde”.

Se Andréa escutar hoje que tem o rosto bonito mas que deveria emagrecer ela apenas responde “eu sou inteira linda, meu amor”. Mas esse processo demorou para acontecer e demandou muito estudo sobre a gordofobia, além de ajuda psicológica.

“Veja quem você segue nas redes sociais, se são parecidas com você na questão do pensamento e se espelhe nelas. Pesquise sobre gordofobia e do gordoativismo. Corpos são mutáveis e únicos, ser gorda não é sinônimo de ser feia”, encerra, poderosíssima.

Fonte: IG Mulher


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