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Covid-19: Brasil terá menos casos do que no pico, mas o suficiente para colapso


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O especialista em saúde pública e professor titular da UFRJ Roberto Medronho afirma que o aumento sustentado de casos se manterá durante as festas de fim de ano
Foto: FreePick/Divulgação

O especialista em saúde pública e professor titular da UFRJ Roberto Medronho afirma que o aumento sustentado de casos se manterá durante as festas de fim de ano

Ao abrir se abrir para a circulação do coronavírus, com relaxamento de medidas de distanciamento, o Brasil terá que fechar portas, se não quiser colapsar com a pandemia.

Uma nota técnica emitida na noite de domingo (29) pelo Grupo de Trabalho para Enfrentamento da Covid-19 da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) alerta que a rede de saúde precisa ser remobilizada e propõe o fechamento de tudo o que não seja essencial para fazer girar a economia, como shows e praias.

O especialista em saúde pública e professor titular da UFRJ Roberto Medronho afirma que o aumento sustentado de casos se manterá durante as festas de fim de ano. Entre as recomendações estão testagem, rastreamento e isolamento, coisas que jamais foram feitas em massa no Brasil. Do contrário, “não precisaríamos estar passando por isso agora”, frisa Medronho.

Segunda onda ou repique de casos, qual a situação hoje no Brasil?

Nome é o que menos importa. O que importa é que temos um aumento sustentado do número de casos desde outubro sem sinal de arrefecimento à vista, em várias partes do Brasil. Tudo indica que teremos festas de fim num cenário de crescimento de casos, cujo ritmo pode até acelerar. Nem pensar em festas de réveillon com multidões. Os números mostram claramente isso. E o município do Rio de Janeiro é dramático e emblemático.

Por que a situação carioca é tão preocupante?

Desde a semana epidemiológica 42 (11 a 17 de outubro), o município tem um aumento sustentado e a estrutura de saúde está na prática colapsada. São 93,5% dos leitos Covid-19 do SUS ocupados. Estamos com uma média de 3 mil a 4 mil casos semanais, um absurdo. Depois do pico na semana 18 (26/04 a 02/05), quando tivemos 9 mil casos semanais, havia expectativa de decréscimo. Chegamos a ter de 2 mil casos, no início de outubro. Mas no meio de outubro o quadro mudou. Não teremos a explosão do início do ano, mas teremos muitos casos numa situação pior e não apenas no Rio.

O que torna a situação agora pior?

Não teremos tantos casos, mas teremos casos suficientes para fazer o sistema colapsar e pessoas morrerem sem atendimento.

O Brasil baixou a guarda?

Acontece que a sociedade está exausta; os profissionais de saúde esgotados; a economia, quebrada; e desmobilizamos a estrutura criada para atender os doentes sem ter sequer um plano de remobilização. O Brasil é um país sem planos nesta pandemia. Não fui contra reativar leitos para outras doenças, mas era preciso ter um plano para o caso de a pandemia se reintensificar. E não houve. Transformar leito comum em Covid-19 de novo é complexo. Temos contratos de médicos vencendo, leitos fechados e a sociedade desmobilizada. Em municípios que entram em período de transição, a situação é mais perigosa. Tenho medo da transição.

Por que o senhor teme a transição?

Porque pode paralisar a máquina pública e, em consequência, o combate da pandemia. Espero que o espírito republicano prevaleça e se adotem medidas para o bem da população. Os prefeitos são os gestores plenos do SUS, são eles que decidem as medidas na ponta. Se tivermos uma máquina paralisada, será um caos ainda maior. Não temos no Brasil funcionários de estado, temos funcionários de governo, que saem ao sabor político. Isso nos torna mais vulneráveis.

A nota técnica da UFRJ recomenda testagem e rastreamento de casos em massa, além de isolamento. Isso é viável?

Claro que é. E tem que ser teste molecular (RT-PCR). Esqueçam o sorológico (anticorpos), ele se presta a estudos epidemiológicos e não para detectar casos ativos e conter a disseminação do vírus. A descoberta de que o Ministério da Saúde tem milhões de kits de PCR com prazo de validade prestes a vencer, desperdiçados, mostra que não se tratou de falta de testes, mas de uma irresponsabilidade absurda. Se o Brasil tivesse testado em massa com PCR, não precisaríamos estar passando por isso agora.

Vocês propõem medidas de distanciamento também. Quais as mais importantes?

Estamos numa situação econômica e social tão precária que precisamos ter precisão cirúrgica e ir direto naquilo que tem maior impacto. A economia precisa continuar a girar, mas certas atividades têm que ser interrompidas porque são devastadoras para a disseminação do coronavírus.

E quais são elas?

Todos os eventos culturais, esportivos e sociais. Não pode haver aglomeração e, por isso, praias precisam voltar a ser fechadas. Praias, em tese, são seguras porque são abertas, têm vento, sol e água. Mas as pessoas fazem questão de ficar todas juntas e isso é inviável. Os horários precisam ser repensados para evitar aglomerações nos transportes. Muitas pessoas acham que é possível aprender conviver com o coronavírus. Mas não é possível conviver com um assassino em massa. Tem os uma epidemia paralela de falta de solidariedade e bom senso.

Fonte: IG SAÚDE


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