O Cerrado, um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta, abriga atualmente 41 das 89 espécies de beija-flores registradas no Brasil. No entanto, essas aves estão sob risco crescente, segundo alerta o biólogo e fotógrafo da natureza Marcelo Kuhlmann, que dedicou mais de uma década ao estudo das interações entre essas espécies e as flores do bioma.
Com o objetivo de catalogar as plantas atrativas para os beija-flores, Kuhlmann percorreu extensas áreas do Cerrado, em estados como Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Tocantins, Mato Grosso, Bahia e Distrito Federal. O resultado do trabalho foi reunido em uma publicação independente, o livro Cerrado em Cores: Flores Atrativas para Beija-Flores, com 750 páginas e mais de 300 espécies de plantas nativas registradas.
De acordo com o pesquisador, o desmatamento, principalmente para a expansão agrícola, é a principal ameaça à biodiversidade do bioma. “Apesar da importância do agronegócio para a economia nacional, as práticas nem sempre são sustentáveis. Cerca de 50% da vegetação nativa do Cerrado foi perdida nas últimas sete décadas”, afirma Kuhlmann.
O impacto ambiental se estende aos polinizadores, como os beija-flores, que desempenham um papel essencial no ecossistema. No Cerrado, entre 80% e 90% das plantas dependem da polinização feita por animais, incluindo aves, insetos e até morcegos.
O pesquisador também chama atenção para os efeitos das mudanças climáticas sobre o período de floração das plantas, o que pode afetar diretamente o comportamento das aves. “Para manter a população de polinizadores ativa durante todo o ano, é necessário que haja flores disponíveis em diferentes estações”, explica.
A pesquisa revelou ainda que o formato do bico dos beija-flores está diretamente relacionado à diversidade das flores. Essa adaptação é resultado de milhares de anos de coevolução, evidenciando a importância de preservar a variedade de espécies no bioma.
Entre os registros mais raros, destaca-se o avistamento do Phaethornis nattereri, conhecido como rabo-branco-de-sobre-amarelo, identificado na Chapada dos Guimarães, na divisa entre Cerrado e Pantanal.
Além do conteúdo científico, o livro busca contribuir para a conscientização ambiental. “É impossível conservar o que não se conhece”, diz Kuhlmann. Ele também ressalta que a conservação do Cerrado é vital para o equilíbrio hídrico do país, pois a região é considerada o berço das águas do Brasil.
A obra foi financiada por meio de campanha coletiva e publicada pela editora independente Biom Field Guides, de propriedade do autor. Com acabamento especial e capa dura, a publicação está disponível para interessados em conhecer mais sobre a relação entre os beija-flores e a flora do Cerrado.