Em três anos, o Brasil registrou um aumento alarmante nos casos de ataques de abelhas africanizadas (Apis mellifera). Entre 2021 e 2024, as ocorrências saltaram de 18,6 mil para 34,2 mil – uma alta de 83%. O número de mortes mais que dobrou no mesmo período, chegando a 125 óbitos anuais, patamar que se manteve em 2024.
Segundo pesquisadores da Unesp, o cenário coloca o envenenamento por picadas de abelhas como um problema de saúde pública negligenciado. O alerta foi publicado em artigo na revista científica Frontiers in Immunology, que descreve os efeitos clínicos do veneno, os riscos para o organismo humano e a ausência de tratamento específico.
Sem antídoto disponível
Diferente do que ocorre com serpentes e escorpiões, ainda não existe soro contra o veneno das abelhas africanizadas. O primeiro produto do tipo foi patenteado pela Unesp em 2024, mas aguarda financiamento para a última fase de testes clínicos. O investimento necessário é estimado em R$ 20 milhões.
“Hoje, o tratamento é apenas sintomático. Um soro específico poderia salvar vidas”, afirma o médico Benedito Barraviera, um dos fundadores do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap).
Por que os ataques aumentaram?
O biólogo Osmar Malaspina, do câmpus da Unesp em Rio Claro, aponta que fatores como desmatamento, perda de habitat e a busca por alimentos em áreas urbanas explicam parte do crescimento. “Muitas colmeias estão migrando para dentro das cidades, o que aumenta o risco de interação com humanos”, diz.
Além disso, a defensividade natural da espécie, o aumento do número de colmeias e até condições climáticas extremas podem potencializar os ataques.
Efeitos no corpo humano
- Uma única ferroada pode ser fatal em pessoas alérgicas, causando choque anafilático.
- Em casos de múltiplas picadas, até indivíduos sem alergia podem sofrer intoxicação grave, com riscos de falência renal, neurológica e até parada cardiorrespiratória.
O que fazer em caso de ataque?
Especialistas orientam:
- Não manuseie colmeias.
- Não use inseticidas nem faça movimentos bruscos perto dos ninhos.
- Caso seja ferroado, retire o ferrão rapidamente e afaste-se do local sem gritar ou matar abelhas.
- Procure abrigo seguro e acione a Defesa Civil ou os bombeiros para remoção da colmeia.