Pesquisadores brasileiros redescobriram, após mais de um século, a Begonia larorum, espécie considerada possivelmente extinta e endêmica da ilha de Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo. O achado foi descrito em estudo publicado na revista Oryx – The International Journal of Conservation.
A pesquisa foi conduzida pelo professor Fábio Pinheiro, do Instituto de Biologia da Unicamp e pesquisador associado ao CbioClima, e pelo doutorando Gabriel Pavan Sabino. A planta era citada como criticamente ameaçada e não havia registros recentes, segundo o Plano de Manejo da Estação Ecológica Tupinambás e do Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes.
A redescoberta ocorreu em 2024, após 14 expedições realizadas entre março de 2022 e setembro de 2024. As buscas incluíram áreas de mata fechada, encostas e regiões degradadas por incêndios antigos.
Primeiros registros após um século
A primeira evidência surgiu em fevereiro de 2024, quando um único indivíduo estéril foi encontrado no sub-bosque da ilha. Como a planta não apresentava estruturas reprodutivas, os pesquisadores recorreram à propagação ex situ — técnica em que material genético é mantido e estudado fora do habitat natural. Cinco clones foram formados, e dois deles chegaram à fase reprodutiva, permitindo a identificação definitiva da espécie.
Em setembro de 2024, uma pequena população com 19 indivíduos — 17 deles reprodutivos — foi encontrada em área de vegetação aberta. As plantas foram fotografadas, mapeadas e coletadas para registro científico.
Riscos ambientais e espécies invasoras
O estudo também alerta para ameaças que colocam em risco a Begonia larorum, como a presença de gramíneas e samambaias invasoras (Melinis minutiflora e Pteridium esculentum). Essas espécies ocupam áreas degradadas e aumentam o acúmulo de biomassa seca, elevando o risco de incêndios.
Alcatrazes já foi alvo de perturbações intensas ao longo do século XX, incluindo cultivos, presença militar e exercícios de tiro. Em 2004, um foco de incêndio provocado por treinamento destruiu cerca de 20 hectares da ilha.
Para espécies com distribuição tão restrita e número reduzido de indivíduos, destacam os pesquisadores, qualquer perturbação pode significar extinção definitiva.
Medidas de conservação recomendadas
O estudo propõe ações para garantir a sobrevivência da espécie:
• Manutenção do regime de proteção integral da Estação Ecológica Tupinambás;
• Controle de espécies invasoras e redução do risco de incêndios;
• Ampliação de programas de conservação ex situ;
• Estudos sobre genética, ecologia e reprodução da planta;
• Submissão da espécie à Lista Vermelha da IUCN.
Segundo os autores, a redescoberta reforça a necessidade de políticas de conservação voltadas às espécies insulares brasileiras, consideradas altamente vulneráveis a distúrbios ambientais, mudanças climáticas e invasões biológicas.
O artigo científico completo pode ser acessado pelo DOI: doi.org/10.1017/S0030605325000419.



