Pesquisador esclarece como serpentes se locomovem, capturam presas e vivem entre os galhos mesmo sem braços ou pernas
Embora não tenham patas, muitas espécies de serpentes são capazes de escalar árvores com facilidade e até viver permanentemente entre os galhos. A explicação para essa habilidade está no processo evolutivo, conforme aponta o Instituto Butantan.
De acordo com Francisco Franco, pesquisador científico do Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan, as serpentes são descendentes de lagartos e, em sua origem, possuíam membros. Durante milhões de anos, indivíduos com corpos mais alongados e membros menores foram favorecidos pela seleção natural. Com o tempo, essas estruturas desapareceram por completo, embora algumas espécies, como jiboias e sucuris, ainda apresentem resquícios desses membros na região do quadril.
A falta de patas foi um fator determinante para que as serpentes se adaptassem a diferentes ambientes, como o solo, o subsolo, ambientes aquáticos e, inclusive, áreas arborizadas. As serpentes podem ser classificadas como terrestres, fossórias (que vivem enterradas), criptozóicas (que vivem escondidas), aquáticas, semi-aquáticas, semi-arborícolas (que sobem em árvores, mas não vivem exclusivamente nelas) ou arborícolas (que vivem e se alimentam nas árvores).
Como as serpentes se movimentam sem patas?
A movimentação das cobras é possível graças a uma estrutura corporal altamente flexível. Os movimentos ondulatórios do corpo, aliados às irregularidades do solo, permitem o deslocamento. Muitas espécies contam com mais de cem vértebras ligadas a costelas que auxiliam na movimentação, funcionando de maneira semelhante às pernas de uma centopeia.
Como capturam presas sem usar membros?
Mesmo sem braços ou mãos, as serpentes conseguem capturar e engolir presas inteiras. Isso ocorre porque os ossos de sua cabeça, como as mandíbulas, são articulados, permitindo que abram a boca em grande amplitude. Além disso, a ausência do osso esterno — que em outros animais une as costelas — permite maior flexibilidade para a passagem de alimentos volumosos pela garganta até o estômago, onde são digeridos.
Quais espécies sobem em árvores?
Diversas espécies têm habilidade para escalar árvores, mas as mais adaptadas para esse comportamento são as arborícolas e semi-arborícolas. No Brasil, destacam-se espécies como a cobra-cipó (Chironius exoletus), a caninana (Spilotes pullatus), a cobra-papagaio (Corallus batesii), a dormideira (Imantodes cenchoa) e a focinhuda (Oxybelis aeneus). Muitas delas têm corpos longos e finos, favorecendo a camuflagem entre galhos e folhas.
Como as serpentes se adaptaram à vida nas árvores?
Segundo o Instituto Butantan, as espécies arborícolas passaram por um processo evolutivo que favoreceu características como leveza, alongamento corporal e coloração que facilita a camuflagem. Essas adaptações aumentaram a chance de sobrevivência ao permitirem a fuga de predadores e a captura de presas como aves, ovos, rãs e lagartos que habitam as árvores.
Espécies como a cobra-papagaio e a jiboia utilizam a cauda como apoio para se firmar aos galhos. A cauda preênsil funciona como um ponto de equilíbrio, permitindo que o animal fique suspenso ou se desloque entre os galhos com estabilidade.
Jararaca-ilhoa: um caso único de adaptação
Um exemplo notável de adaptação recente é a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), espécie endêmica da Ilha da Queimada Grande, no litoral de São Paulo. Isolada geograficamente há milhares de anos, essa serpente desenvolveu características específicas, como pele mais elástica, cabeça proporcionalmente maior e dentes menores. Tais mudanças permitiram que ela se alimentasse principalmente de aves migratórias, únicas presas disponíveis no ambiente insular.
Fonte: Instituto Butantan
Link direto para mais informações: www.butantan.gov.br