quarta-feira, julho 30, 2025
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Dia do Trabalhador: entenda as origens e os debates atuais sobre direitos trabalhistas

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O 1º de maio, conhecido como Dia do Trabalhador, é marcado por uma história de lutas que ultrapassa mais de um século. A data foi consolidada a partir de um movimento iniciado em 1886, em Chicago, nos Estados Unidos, quando trabalhadores reivindicavam a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Na ocasião, a repressão violenta resultou em prisões, execuções e mortes, em um episódio que ficou conhecido como a “tragédia de Haymarket”.

De acordo com o historiador Samuel Fernando de Souza, professor da Escola Dieese de Ciências do Trabalho, o evento foi decisivo para a definição do 1º de maio como data internacional de luta da classe trabalhadora. A decisão foi formalizada durante a Segunda Internacional Socialista, em 1889, como uma homenagem aos trabalhadores mortos durante os protestos.

A pesquisadora Laura Valle Gontijo, do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), lembra que, durante as manifestações em Chicago, a explosão de uma bomba levou a uma reação da polícia, que atirou contra a multidão, matando quatro pessoas e prendendo centenas. Oito trabalhadores foram acusados de conspiração; sete foram condenados à morte, sendo que um se suicidou na prisão e quatro foram enforcados.

No Brasil, as primeiras comemorações ocorreram a partir de 1891, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. A data, inicialmente símbolo de organização e luta dos trabalhadores, foi ressignificada ao longo do tempo. Segundo Samuel de Souza, com o golpe de 1964 e o enfraquecimento do movimento sindical, o 1º de maio ganhou um caráter festivo, esvaziado de conteúdo político.

Durante o governo de Getúlio Vargas (1930–1945), o dia passou a ser apropriado como “Dia do Trabalho”. Nesse período, Vargas anunciou legislações importantes, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), e usava a data para divulgar medidas como o aumento do salário mínimo.

O historiador destaca que, no final dos anos 1970, durante o movimento conhecido como Novo Sindicalismo, a data foi reapropriada pelos trabalhadores em atos contra a ditadura e em defesa da abertura política. As mobilizações lideradas por metalúrgicos da região do ABC paulista reforçaram o caráter de luta da data.

A pesquisadora Laura Gontijo ressalta que a tentativa de transformar o Dia do Trabalhador em Dia do Trabalho visava reduzir a consciência de classe. “A intenção foi esvaziar o significado político da data, tornando-a apenas uma celebração genérica”, explica.

Atualmente, as pautas continuam focadas na manutenção e ampliação de direitos trabalhistas. Entre as discussões em andamento estão o combate à pejotização — prática em que trabalhadores são contratados como pessoa jurídica, sem os direitos garantidos pela CLT — e a regulamentação de atividades realizadas por meio de plataformas digitais.

Dados de uma pesquisa realizada em 2022 indicam que entregadores de aplicativos trabalhavam, em média, 47,6 horas por semana, com relatos de jornadas que chegavam a 80 horas semanais. “Essas condições se aproximam das jornadas do período da Revolução Industrial, quando não havia regulamentação”, afirma a pesquisadora.

Outra pauta em debate é a proposta de mudança na escala de trabalho de 6×1 (seis dias de trabalho para um de descanso) para 5×2 (cinco dias de trabalho e dois de descanso), além da redução da jornada semanal para 35 ou 36 horas sem corte de salários. A intenção é melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e permitir mais tempo para atividades sociais, familiares e de lazer.

Laura Gontijo argumenta que, apesar do aumento da produtividade impulsionado pelas novas tecnologias, os benefícios não têm sido revertidos para os trabalhadores. “A tecnologia permitiu ganhos de eficiência, mas isso não se traduziu em melhores condições de trabalho ou redução de jornada”, destaca.

A pesquisadora também aponta que, assim como em outras reformas trabalhistas na história do Brasil, setores empresariais resistem às mudanças alegando riscos econômicos. Ela cita o exemplo da França, onde a jornada de 35 horas semanais foi implementada desde 1998, sem comprometer a economia, permitindo maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

A discussão sobre a redução da jornada e melhores condições de trabalho segue atual, evidenciando que as demandas históricas do Dia do Trabalhador ainda estão longe de serem plenamente atendidas.

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