Um grupo de pesquisadoras da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu uma nova formulação líquida de firocoxibe, anti-inflamatório indicado para o tratamento da osteoartrite em cães. A inovação utiliza a nanotecnologia para transformar o princípio ativo em nanocristais, aumentando significativamente sua absorção e eficácia no organismo dos animais.
A osteoartrite, também conhecida como artrose, é uma doença crônica e degenerativa que afeta a mobilidade e causa dor, sendo comum em animais idosos. A nova formulação da USP mostrou-se mais eficiente do que os medicamentos convencionais disponíveis no mercado. De acordo com os testes realizados em cães da raça beagle, a versão nanoestruturada dobrou a concentração da substância no sangue em relação ao medicamento tradicional.
A patente da nova tecnologia foi recentemente depositada junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) pela Agência USP de Inovação (Auspin).
Alternativa ao uso de comprimidos
O novo formato do medicamento se apresenta em solução líquida, o que facilita sua administração e permite ajuste da dosagem conforme o peso do animal. Atualmente, o firocoxibe é comercializado principalmente em comprimidos mastigáveis, que apresentam baixa solubilidade em água, o que dificulta sua absorção e reduz sua eficácia terapêutica.
Segundo Luiza de Oliveira Macedo, doutoranda responsável pelo projeto, o uso da nanotecnologia permite reduzir as partículas do medicamento de cerca de 20 a 30 micrômetros para aproximadamente 200 nanômetros. Essa transformação aumenta a biodisponibilidade da substância, ou seja, a quantidade de medicamento que efetivamente age no organismo.
A professora Nádia Araci Bou-Chacra, orientadora do estudo, explica que a maior absorção permite utilizar doses menores, com início de ação mais rápido e maior intervalo entre as aplicações, o que pode facilitar o tratamento, inclusive em ambientes domésticos.
Avanço na medicina veterinária
Com a crescente longevidade dos animais de estimação e a valorização do bem-estar animal, cresce também a demanda por medicamentos mais eficazes para doenças crônicas. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o setor pet movimentou R$ 75,4 bilhões em 2024, sendo R$ 7,8 bilhões apenas em produtos veterinários.
A formulação líquida com nanocristais foi inicialmente testada em larvas da mariposa Galleria mellonella, modelo amplamente utilizado para estudos de toxicidade. Mesmo em doses até dez vezes superiores às convencionais, não foram observados efeitos adversos significativos, o que possibilitou o avanço dos testes para cães.
Nos ensaios com animais, a nova versão do fármaco atingiu uma concentração no sangue de 1.105 ng/mL em 30 minutos após a aplicação de uma dose de 5 mg por quilo, reduzindo para 113 ng/mL após 24 horas. Em comparação, a versão tradicional alcançou 580 ng/mL em uma hora e caiu para 98 ng/mL no mesmo período.
“Os dados sugerem que a formulação nanoestruturada oferece maior eficácia e pode proporcionar alívio mais rápido da dor”, afirma Bou-Chacra.
Próximos passos
Apesar dos resultados promissores, o produto ainda não está disponível para comercialização. A pesquisadora Luiza Macedo ressalta que o processo de transformação da formulação em um medicamento veterinário aprovado requer etapas rigorosas de testes, regulamentação e padronização para produção em larga escala.
Um laboratório do setor veterinário já demonstrou interesse em dar continuidade ao desenvolvimento industrial do produto. A expectativa é que, uma vez concluídas as etapas regulatórias e industriais, o medicamento possa se tornar uma alternativa para o tratamento da artrose em cães idosos, oferecendo maior conforto e qualidade de vida para os animais e seus tutores.
