Celebrado em 23 de abril, São Jorge é homenageado com missas, procissões e queima de fogos em diferentes partes do Brasil, especialmente no estado do Rio de Janeiro, onde a data é considerada feriado. A devoção ao santo atravessa fronteiras religiosas e culturais, sendo respeitado por fiéis católicos, adeptos da Igreja Ortodoxa, da Igreja Anglicana e também por praticantes de religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé.
De acordo com a tradição cristã, São Jorge é considerado padroeiro dos soldados, cavaleiros, escoteiros, arqueiros e esgrimistas. No imaginário popular, é visto como um símbolo de proteção espiritual e resistência contra adversidades.
Segundo o site oficial do Vaticano, São Jorge representa a vitória do bem sobre o mal. A biografia atribuída a ele aponta que teria nascido na Capadócia, atual território da Turquia, por volta do ano 280. Ele se mudou para a Palestina e ingressou no exército do imperador romano Diocleciano. Em 303, durante uma onda de perseguições aos cristãos, Jorge teria se posicionado contra as ordens do imperador e, por isso, acabou sendo torturado e decapitado.
A escassez de registros históricos é reconhecida por autoridades religiosas. A própria Santa Sé destaca que muitas histórias sobre São Jorge surgiram por meio da tradição oral, com grande presença de elementos lendários.
Uma das narrativas mais populares, surgida durante o período das Cruzadas (séculos XI a XIII), relata que o santo teria matado um dragão que vivia em um pântano e ameaçava uma cidade chamada Selém, na Líbia. A imagem do guerreiro montado a cavalo, empunhando uma lança contra a criatura, se tornou símbolo da fé associada ao santo.
Pesquisadores apontam que essa representação visual fortaleceu a imagem de São Jorge como combatente do mal. Para o historiador Luiz Antonio Simas, o santo é associado a batalhas cotidianas, sendo invocado por fiéis em situações do dia a dia. Simas é autor de um livro infantil que trata da figura do santo em forma de cordel.
A influência de São Jorge se estende para além do cristianismo. Entre muçulmanos, há quem associe sua figura ao personagem Al-Khidr, mencionado no Alcorão como um servo sábio de Deus. Na cultura inglesa, o santo é patrono nacional desde o século XIV, após ser instituída a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge pelo rei Eduardo III.
No Brasil, o sincretismo religioso ligou São Jorge a Ogum, orixá do candomblé e da umbanda, com forte simbolismo guerreiro. No entanto, líderes religiosos ressaltam que se tratam de entidades diferentes. A socióloga e mãe de santo Flávia Pinto explica que Ogum é um orixá com origem milenar, anterior ao cristianismo. Ela destaca que a associação entre as duas figuras ocorreu no contexto de resistência cultural dos povos africanos escravizados, que utilizaram imagens católicas como forma de manter seus cultos sob repressão.
O sincretismo entre São Jorge e Ogum ainda é lembrado por muitos devotos em terreiros e festas religiosas, especialmente no Rio de Janeiro. Para pesquisadores, a figura de Jorge foi ressignificada ao longo dos séculos, ganhando diferentes significados conforme o contexto social e religioso em que é cultuado.
Embora, em 1969, a celebração litúrgica de São Jorge tenha sido reclassificada pelo Vaticano como memória facultativa, sua popularidade permanece expressiva, refletida na devoção de milhões de pessoas no Brasil e em outras partes do mundo.