segunda-feira, 22 dezembro, 2025
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Biópsia líquida avança no Brasil e amplia chances de identificar mutações no câncer de pulmão

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A biópsia líquida tem se consolidado como uma ferramenta promissora para a detecção de mutações genéticas no câncer de pulmão, especialmente no subtipo não pequenas células, que representa cerca de 85% dos casos da doença. Um estudo realizado pelo Hospital de Amor, em Barretos, com apoio da Fapesp, demonstrou que a análise de DNA tumoral circulante a partir de amostras de sangue pode acelerar o diagnóstico e contribuir para a definição de tratamentos mais precisos.

A pesquisa, publicada na revista Molecular Oncology, utilizou um painel multigênico comercial para identificar alterações genéticas relevantes em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células. O método permite detectar mutações em genes associados ao desenvolvimento do tumor, mesmo sem a necessidade de coleta de tecido por meio de procedimentos invasivos.

O estudo avaliou amostras de plasma de 30 pacientes, incluindo indivíduos sem sintomas e participantes de programas de rastreamento. Os resultados mostraram que cerca de dois terços das amostras apresentaram mutações genéticas, índice que foi ainda maior entre pacientes que já haviam passado por algum tipo de tratamento.

Entre as alterações mais frequentes estavam mutações nos genes TP53, KRAS e EGFR. Enquanto o TP53 ainda não possui terapias específicas disponíveis, mutações em EGFR e em determinados tipos de KRAS já contam com medicamentos direcionados, o que pode modificar significativamente o tratamento e a expectativa de sobrevida dos pacientes.

De acordo com os pesquisadores, o adenocarcinoma de pulmão é o subtipo que mais se beneficiou dos avanços da genômica nos últimos anos. Antes do desenvolvimento das terapias-alvo, a sobrevida média era inferior a um ano. Atualmente, pacientes que recebem tratamento adequado podem viver vários anos, com alguns casos chegando a uma década.

Um dos achados mais relevantes do estudo ocorreu durante o acompanhamento de um participante assintomático, no qual uma mutação foi identificada meses antes do diagnóstico clínico do câncer. O resultado reforça o potencial da biópsia líquida como ferramenta complementar em programas de rastreamento, especialmente entre fumantes e ex-fumantes.

Outro ponto de destaque é a rapidez do exame. Enquanto a análise de amostras de tecido pode levar semanas, a biópsia líquida permite a liberação de resultados em até dois dias. Essa agilidade pode antecipar decisões médicas e o início do tratamento, fator considerado decisivo no prognóstico do câncer de pulmão.

Além disso, o estudo mostrou que o método é eficaz mesmo com amostras congeladas, dispensando o uso de tubos especiais ou transporte imediato, o que amplia a viabilidade da técnica em serviços públicos de saúde.

Apesar dos avanços, o custo ainda é um obstáculo. O exame utilizado no estudo custa em torno de R$ 6 mil por paciente, valor considerado elevado para ampla adoção no Sistema Único de Saúde. No setor público, o acesso a testes moleculares e terapias-alvo ainda é restrito, o que leva muitos pacientes a recorrerem à Justiça para garantir o tratamento.

Os pesquisadores destacam que a biópsia líquida não substitui completamente a biópsia tradicional, mas atua de forma complementar. Em casos de resultado negativo, a análise do tecido tumoral continua sendo necessária, especialmente em estágios iniciais da doença, quando a quantidade de DNA tumoral circulante é menor.

Mesmo com essas limitações, o estudo aponta que a biópsia líquida tem potencial para acelerar diagnósticos, monitorar a evolução da doença e orientar tratamentos de forma mais eficiente. A expectativa é que, com a redução dos custos e a ampliação do acesso, a medicina personalizada no tratamento do câncer de pulmão avance de forma mais ampla no Brasil.

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